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As adegas do Pico

 

            1.-Os Açores, nesta época do ano, são um destino procurado por visitantes de muitas nacionalidades. Uns vêm por mera curiosidade; outros obtiveram informação adequada e optaram pelas singularidades deste destino; outros ainda já cá estiveram e, voltam a estas ilhas de que levaram boas recordações.
Há dias, um grupo de espanhóis, residentes em Tenerife - Canárias, passou aqui pela Engrade. Andavam a pé e convidei-os a comer uva. Acederam de bom grado e conversámos o suficiente para saber o que os trouxera cá: conhecer mais um arquipélago da Macaronésia (já haviam visitado a Madeira) e andar a pé. Optaram pelas ilhas do Triângulo – São Jorge, Pico e Faial, e encontraram semelhanças com a ilha onde vivem na orla marítima, na configuração do terreno, em algumas culturas... Um dos visitantes, professor universitário aposentado, ocupa agora o seu tempo a cuidar de uma vinha. Comeu uva, admirou-se da sua doçura e fotografou alguns currais de vinha que conservo, como antigamente. Dei-lhes a provar Angelica do Pico. Apreciaram e tomaram nota de como se fazia. Falámos também sobre como compatibilizar a preservação do ambiente com a implementação e rentabilização dos investimentos turísticos e foi unânime a concordância pela  recusa do turismo de massas. O exemplo das Canárias – disseram – trouxe muitas desvantagens de tal forma que agora é muito difícil colocar um travão aos milhões que visitam as ilhas atlânticas espanholas. Ao falarem da beleza de São Jorge e do Pico, manifestaram porém, grande espanto quanto aos cemitérios de viaturas abandonadas que encontraram por aí. Dei-lhes toda a razão.  Disse-lhes, porém, que está a ser feito um grande esforço para a remoção da sucata.
Uma educação ambiental adequada deve passar por uma actuação mais firme das entidades responsáveis: governo e autarquias locais. De outro modo e com o aumento do parque automóvel, corremos o risco de se registar uma grande proliferação de cemitérios de sucata, nos sítios mais esconsos, pois os seus proprietários julgam que do destino dos seus bens não têm de dar contas a ninguém.
Se é verdade que esta e todas as ilhas possuem condições de reconhecida qualidade natural e ambiental, um grande esforço educacional há que ser feito para que todos cuidemos dessas riquezas e as leguemos aos vindouros residentes e visitantes, no seu melhor.

Trabalhos em cedro

            2. - Já uma vez referi o avanço, muito difícil de conter, de espécies arbóreas que infestam as terras abandonadas, com uma rapidez impressionante. O incenso é uma dessas plantas. Outra, endémica e por isso protegida, é a urze ou mato, como popularmente é conhecida.
O caso do cedro ou zimbro, é diferente. Nos matos e pastagens altas da Ilha do Pico, o cedro desenvolveu-se ao longo de centenas de anos, atingindo dimensões apreciáveis. Com a madeira de cedro, muito aromática, leve e resistente à humidade e aos anos, os mestres e artistas destas ilhas construíram talhas de altares, o cavername de embarcações, casas, alfaias agrícolas e todo o tipo de artefactos. Presentemente, é usada no artesanato.
Estas qualidades são bastantes para se preservar, a todo o custo, as plantas de cedro existentes. Mais ainda: para incentivar e promover o cultivo de plantio de cedro, em terrenos bravios, hoje pasto de incensos, de faias e pau branco.
Contou-me um carpinteiro da freguesia da Piedade que há uns anos, quando os serviços florestais procederam à abertura de caminhos de penetração, muitos cedros de grande porte foram abatidos e soterrados no leito das novas vias. Lá estão e continuarão lá, por muitos anos, pois é enorme sua resistência. Alguns paus foram enviados para a Terceira, para a reconstrução da Sé. Pela calada da noite, houve também quem se aproveitasse – e bem! - para levar essa madeira de qualidade destinando-a a fins mais nobres que a terra fria.
Seria de toda a conveniência que os serviços florestais, a quem compete zelar pela preservação da floresta e incrementar políticas adequadas à florestação dos solos, desenvolvessem, rapidamente, estudos conducentes à plantação do cedro do mato e do zimbro. Acompanhadas das necessárias ajudas financeiras à desmatação de árvores sem valor comercial, essas medidas viriam, certamente, valorizar centenas e centenas de hectares de terrenos incultos, invadidos, impiedosamente por infestantes.
Levaria tempo a tirar rendimento dessas árvores? Certamente! mas valeria a pena, pois a madeira de cedro tem muitas qualidades que o património arquitectónico e artístico destas ilhas comprovam.
Aqui deixo este repto a quem de direito, certo de que a sugestão de um leigo não cairá em saco roto. Mais não seja, dará que pensar. A floresta endémica dos Açores, que importa cuidar, pode ter um valor comercial muito maior que um simples exemplar de uma planta protegida das ilhas da Macaronésia.

 

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